quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Entrevista com o vereador João Alfredo


01. Quando foi que o senhor  viu que tinha vocação para a política?
É difícil dizer quando tudo isso começou, até porque foram várias vertentes a desaguar em minha militância. Meu pai, já falecido, foi prefeito de sua cidade e deputado (mas, já não estava mais vivo na minha primeira eleição em 1986); fiz parte do Grupo de Jovens da Paróquia de São Vicente, na adolescência, e quando entrei na Faculdade de Direito da UFC, em 1977, participei do movimento estudantil, sendo o primeiro presidente do Centro Acadêmico Clovis Bevilacqua após a reabertura em 1979; finalmente, quando o PT surgiu, fui um de seus fundadores aqui no Ceará.

02. Por que o senhor decidiu ingressar no Partido dos Trabalhadores e quanto tempo o senhor ficou nesse partido?
Como falei, ingressei no PT logo no início, no final de 1979, início de 1980: a minha ficha foi a de n. 4, na Primeira Zona Eleitoral e só me desfiliei em 2005, portanto passei 25 anos dos meus 52 de idade no Partido dos Trabalhadores.

03. Por que ocorreu a mudança partidária do PT para o PSOL e como está a estrutura do PSOL em Fortaleza?
Foram várias as causas: o mensalão, uma política econômica neoliberal, a liberação dos transgênicos, a reforma da previdência, a não realização da reforma agrária; enfim, o abandono do programa original do PT e a rendição à velha forma de fazer política, sem ética e sem ideologia.

04. O que o levou a se interessar pela defesa do Meio Ambiente?
         Leituras, vivência, convívio com pescadores e agricultores familiares, tomada de consciência da situação do planeta, angústia e vontade de mudar, e, principalmente, o entendimento de que a questão ecológica, socioambiental, é o principal problema sobre o qual se debate a humanidade em tempos de mudanças climáticas e aquecimento global.

05. Qual a sua opinião sobre a consciência ambiental dos cearenses?
         Melhorou pelo lado da simpatia, de compreender melhor a necessidade de preservar o ambiente natural e de apoiar nossas causas ecológicas, mas, por outro lado, penso que piorou em termos de mobilização, pois, já não conseguimos juntar muita gente, como fazíamos nas décadas de 1980 e 1990.

06. Como o senhor acha que a prefeitura de Fortaleza deveria trabalhar melhor a questão da reciclagem e quais os projetos do seu mandato que abordam a defesa do Meio Ambiente?
         Infelizmente, a Prefeitura de Fortaleza entregou a questão do lixo praticamente a uma única empresa, a Ecofor, do grupo Marquise. Não há qualquer política de coleta seletiva e reciclagem e nenhum apoio ao(s) catador(es) de resíduos sólidos em Fortaleza.
         Quanto ao nosso mandato, temos colocado a questão ambiental como prioridade; criamos por lei a Área de Relevante Interesse Ecológico das Dunas do Cocó; instituímos o Sistema Cicloviário, também por lei; aprovamos uma isenção do IPTU para quem separar o lixo; criamos a Semana do Meio Ambiente Chico Mendes etc.

07. Fortaleza não atende a recomendação de índice mínimo de área verde por habitante recomendado pela OMS (OMS recomenda 12 metros quadrados e Fortaleza tem menos de 4 metros quadrados), o que poderia ser feito para melhorar esse quadro?
         Proteger o pouco que sobrou (garantir a ARIE das Dunas do Cocó, o Parque da Sabiaguaba, regulamentar o Parque Ecológico do Cocó etc.), criar novas unidades de conservação, proteger as áreas de preservação permanente de nossos rios e ter uma política forte de arborização em nossa cidade.

08. Em Fortaleza as construções invadiram aproximadamente 42% das áreas verdes nos últimos anos segundo a SEPLA (Secretaria Municipal de Planejamento e Orçamento). Seria viável implantar uma lei onde em todo espaço construído/edificado fosse reservado, por exemplo, 10% de área verde contribuindo assim para arborização de Fortaleza?
A própria lei do parcelamento do solo urbano já prevê uma reserva dos loteamentos para áreas verdes (praças, parques e jardins), mas isso nem é implantado, nem fiscalizado. Outra forma seria o IPTU verde, onde a quantidade maior de área verde levaria a um desconto maior do imposto.

09. Nós temos a SEMAM, SEMACE o IBAMA. O que difere na prática a atuação desses órgãos?
O IBAMA é federal, a SEMACE é estadual e a SEMAM é municipal, mas, a grosso modo, todos esses órgãos sofrem do mesmos problemas: falta de prioridade, de recursos e de pessoal para exercer suas funções de comando e controle na área de meio ambiente.

10. Cite um exemplo de cidade modelo na questão ambiental.
Claro que exemplos de cidade no Brasil e no exterior são importantes de serem imitados, como as que cuidam de suas áreas verdes, do seu trânsito, de sua educação, de seu lixo, mas, penso que temos que ser ousados e criativos na busca de soluções para esta Fortaleza tão maltratada.

11. Encerrando, gostaria de pedir para que o senhor deixe uma mensagem para a nossa juventude que anda um pouco adormecida com as causas sociais e ambientais.
A minha mensagem é de esperança, principalmente, quando vejo jovens tão jovens como vocês do BioLuta que querem despertar a consciência adormecida de colegas e alertar para a necessidade de nos mobilizarmos. A atual situação do planeta, no ponto em que o capitalismo a levou, de profunda crise socioambiental, onde os dois extremos são a miséria de muitos e a opulência de poucos às custas da degradação do planeta e da humanidade, nos chama à reflexão e à ação. E é isso que espero da juventude. Grande abraço,
João Alfredo